Polícia Metropolitana de Londres utilizará o reconhecimento facial em tempo real

fevereiro 20, 2022
A Polícia Metropolitana de Londres fez um anúncio inédito. Após incansáveis testes, seu sistema de reconhecimento facial em tempo real está pronto para ir às ruas. A partir deste mês, câmeras de segurança estrategicamente posicionadas pela cidade identificarão os transeuntes, fornecendo importantes informações para os serviços de inteligência.
O anúncio
Em um comunicado oficial, a Polícia Metropolitana de Londres anunciou a implementação de seu sistema de Live Facial Recognition (reconhecimento facial em tempo real). Estratégia bastante diferenciada e inovadora, o sistema auxiliará os policiais na localização e na prisão de criminosos.
“O uso de reconhecimento facial em tempo real será liderado pela inteligência e implementado em locais específicos de Londres. Isso ajudará a enfrentar o crime, incluindo casos de violência, arma de fogo, faca e exploração sexual infantil e a proteger os vulneráveis.”
Porém, foi enfatizado que o sistema não “passará por cima” ou substituirá o policiamento tradicional. Como dito, o reconhecimento facial em tempo real será mais uma ferramenta de auxílio às investigações. Decidir sobre quem, como e quando abordar ainda será tarefa dos policiais.
“Este é um desenvolvimento importante para ‘Met’ (Polícia Metropolitana de Londres) que é vital para nos ajudar a diminuir a violência. Como uma força de polícia moderna, eu acredito que temos o dever de usar novas tecnologias para manter as pessoas seguras em Londres. Pesquisas independentes mostraram que o público nos apoia nessa questão. Antes da implementação, iremos trabalhar com nossos parceiros e comunidades em nível local.”, disse o comissário assistente Nick Ephgrave.
Aliás, foi escrito que as câmeras focarão em pequenas áreas e estratégicas áreas para escanear os transeuntes. Elas também serão destacadas, para que todos as consigam enxergar. Por fim, é ressaltado que o sistema é independente, não estando relacionado a câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais, por exemplo.
Não mais ficção
O reconhecimento facial em tempo real vinha sendo tratado como ficção até agora. Em Watch Dogs, por exemplo, vemos uma bela reprodução desse sistema — um pouco exagerada, porém. No jogo, a cidade de Chicago está dominada por uma tecnologia chamada ctOS. Este é um sistema altamente complexo que coordena todo o local: tem o controle de quase todos os aparelhos eletrônicos, coleta informações para a polícia, intermedia transações bancárias, etc. Além disso, o sistema possui informações sobre todos os cidadãos, e faz o reconhecimento facial destes por meio de câmeras localizadas em toda a cidade. Com isso, o personagem principal, um hacker, consegue ter acesso a dados de praticamente todos que encontra, pois tem consegue manipular o ctOS. Embora o jogo tenha seus exageros, tratando o sistema controlador como ditatorial, essa ideia agora já é realidade.
Controvérsias
A adoção do sistema pela Polícia Metropolitana de Londres tem recebido certas críticas. A organização ativista Liberty, inclusive, criou uma petição online para estimular a resistência contra a medida. Na página, é argumentado que o reconhecimento facial em tempo real obtém dados de pessoas sem o consentimento destas, que, na maioria dos casos, não fizeram nada de errado. Além disso, é dito que o sistema tende a fazer as pessoas alterarem seu comportamento, já que sabem que estão sendo observadas. Isso tudo é visto pela organização como uma afronta aos direitos humanos.
Além disso, um estudo da Universidade de Essex mostrou que de 42 resultados de reconhecimento facial, apenas 8 estavam corretos, o que compreende uma taxa de 19% de acerto. A conclusão dos autores, o professor Peter Fussey e o doutor Daragh Murray, foi de que o uso do sistema pela Polícia Metropolitana de Londres seria considerado ilegal se fosse levado a julgamento.
É importante lembrar que já foram constatadas várias outras falhas em algoritmos de reconhecimento facial. Em dezembro do ano passado, um estudo feito pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia, do governo dos Estados Unidos, revelou uma diferença muito grande entre as análises de pessoas brancas e não brancas. Para asiáticos e afro-americanos, a taxa de falsos positivos foi até 100 vezes maior. Ademais, dois algoritmos atribuíam o gênero errado a mulheres negras em quase 35% dos casos.
A questão ainda é complicada. Para que o sistema funcione corretamente, é necessário um algoritmo eficiente, que não diferencie sua taxa de acerto conforme o grupo de pessoas analisadas. A questão da privacidade também é importante: ao lidar com informações tão pessoais, como o que alguém faz na rua, é essencial que a Polícia Metropolitana de Londres seja transparente quanto ao uso das imagens, que devem ser cuidadosamente guardadas e manipuladas. Se isso acontecer, o reconhecimento facial em tempo real tem um enorme potencial para ser extremamente útil no combate ao crime.